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Visualizado em: 10/04/2013
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Saci
O Saci-Pererê é uma assombração das
matas e áreas rurais. Pertence, originalmente, ao folclore do sul do
Brasil. Sua figura, muito pequenina, é a de um negrinho perneta. Usa um
gorro vermelho, fuma um cachimbo rudimentar, o pito, e tem as mãos
furadas. O mito do saci é o resultado da convergência e mistura das
crenças das três etnias que, historicamente, entre a colonização e o
Império, formaram o povo brasileiro: índios, portugueses e negros.
Intervenção artística "é o Saci Urbano"
Entre os tupi-guarani, relaciona-se a
uma ave chamada Matinta-Perê [ou Matinta-Pereira] que, postada sobre
uma só perna, emite um canto sombrio considerado de mau-agouro. Até
hoje, uma das características e sinal da presença do saci é o seu
assovio. A tradição, nascida no extremo sul, migrou com os índios para
o centro-oeste e sudeste chegando, eventualmente ao norte-nordeste do
país. É de origem indígena a denominação popular da ave: Saci, também
chamada de "Peito-ferido".
Os portugueses fundiram a idéia da ave
com as também pequenas criaturas dos bosques europeus, anõezinhos,
alguns malvados, outros, apenas travessos que aparecem nos contos de
fadas, como no clássico de Grimm Rumpelstiltskin: "um anãozinho muito
feio dançando em uma roda de fogo com uma perna só". A idéia do pássaro
foi, então, antropomorfizada. Mais tarde, os negros forneceram sua
contribuição concebendo os sacis como almas penadas de crianças
mestiças, bastardas, fruto das relações entre escravas e senhores,
rejeitadas e freqüentemente abandonadas nas matas.
Finalmente, quando o mito se
consolidava, entre os séculos XVIII e XIX, surgiu uma versão sobre o
nascimento dos sacis, descrita por Monteiro Lobato [que também era
pesquisador do folclore nacional] em sua obra infanto-juvenil O Saci:
eles nasceriam nos seguimentos do bambu gigante chamado Taquaruçu onde
se desenvolveriam até que, estando plenamente e magicamente formados,
incluindo o gorro e o pito, rompiam as hastes e ganhavam o mundo
passando a freqüentar fazendas e vilarejos onde praticam suas "artes":
gorar ovos, chupar o sangue das vacas e cavalos, destes, também se
ocupando em trançar-lhes as crinas, rezando o milho nas panelas para
frustrar o desabrochar das pipocas, azedando o leite, gorando ovos,
roubando fumo, que tanto apreciam, fazendo sumir pequenos objetos para
perturbar a ordem doméstica, confundindo o caminho dos tropeiros e
viajantes, assustando os animais com seu peculiar assovio.Essas
travessuras, o saci faz somente para se divertir.
Como assombração que é, o saci tem o
poder de aparecer e desaparecer por encanto e capturá-lo é é um
procedimento relativamente difícil Segundo a tradição, relatada por
Monteiro Lobato, a circunstância ideal para pegar um saci é em dias de
ventania, quando aparecem redemoinhos de poeira e folhas secas.
Produzir esses redemoinhos é uma das diversões dos sacis que, girando
sobre a perna única, posicionam-se no centro da formação. O "caçador",
munido com uma peneira "cruzeta" [que tem duas faixas em cruz como
reforço no bojo], uma garrafa de vidro bem escuro e uma rolha também
marcada com uma cruz na parte superior, aproxima-se do redemoinho e
lançando a peneira bem no meio, aprisiona o duende.
Em seguida, introduz a boca da garrafa
levantando minimamente a peneira: o saci, buscando a escuridão,
refugia-se dentro da garrafa que, então, deve ser rapidamente
arrolhada. Lá permanecerá invisível, mais um truque para fazer com que
pensem que conseguiu escapar. No entanto, em um dia de muito calor,
quando o captor estiver imerso em profunda sonolência, ele se
mostrará. Quem, além de capturar, conseguir se apossar do gorro do
duende, adquire poder sobre ele, que se torna um escravo de quem
realizar a proeza.
FONTES:
CASCUDO, Luis da Câmara. Geografia dos Mitos Brasileiros. São Paulo: Ed. da USP, 1983.
LOBATO, Monteiro. O Saci. São Paulo: Brasiliense, 1969.
ROMERO, Silvio. Contos Populares do Brasil. São Paulo: Ed. da USP, 1985.
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